Sem dúvida que entrámos na era da Digitalização e da Transformação Digital. Praticamente em todos os artigos que lemos, eventos que frequentamos e influencers que seguimos, estas tendências estão presentes de forma transversal a todos os setores e áreas de atividade. Não obstante, a extrema importância destes no mercado global e na procura de fatores de diferenciação e inovação, as pessoas são a principal vantagem competitiva e o pilar das empresas. Os CEO’s estão focados nesta situação. Sendo assim, não parece ter existido melhor momento para os Recursos Humanos provarem todo o seu valor para o negócio.
Associado a isto, assistimos cada vez mais a uma alteração do foco das empresas de um conceito de customer-centric para human-centric. Aproveitando estas estratégias que permitem às empresas entregar uma experiência única e diferenciada aos clientes, porque não fazer o mesmo com os colaboradores? Porque não criar Employee Experiences diferenciadas para os colaboradores tal como criamos Customer Experiences para os Clientes? Adotar estratégias Human-Centric e Employee Experiences vai ajudar, sem dúvida, as empresas no engagement dos seus colaboradores, na retenção e atração de talentos, além de conseguir impactos significativos no aumento da produtividade. Aliar estas estratégias a metodologias de Design Thinking permitirá aumentar a criatividade e inovação nas empresas através dos seus colaboradores.
Assumindo o natural impacto social que estas mudanças irão significar, é expectável que a tecnologia disruptiva também se cruze com o dia-a-dia dos profissionais de recursos humanos. E aqui, sim, a tecnologia tem todo o potencial para contribuir com um passo de gigante que oferece inúmeros benefícios.
Sem dúvida que todos estes temas fazem sentido, no entanto, a primeira pergunta com que me deparo constantemente é, no que se refletem em termos práticos?
Pois bem, vamos então pensar no processo de recrutamento das empresas. Se estivermos a falar no processo de digitalização, que consiste na introdução de tecnologias digitais nos processos existentes de forma a melhorar ou substituir os processos que se encontravam centrados no ser humano, podemos pensar na leitura automática de CV’s através de Inteligência Artificial substituindo a necessidade de um recrutador ter que abrir os CV’s dos candidatos e analisá-los passando a aceder a uma plataforma analítica que lhe apresenta a informação dos mesmos de forma visual e analítica.
Ao avançarmos no nível de maturidade das organizações podemos então falar em Transformação Digital, que tira proveito de áreas como o Big Data, Internet of Things, Advanced Analytics e Data Science para realizar reengenharia aos modelos e processos de negócio das empresas criando novas fontes de valor. Continuando com o processo de recrutamento, que empresa não gostaria de ter um processo de recrutamento mais ágil, eficiente e preciso? Recrutar a pessoa certa para o lugar certo? Conseguir sempre os talentos do mercado tornando-se a maioria high performances na empresa?
Com toda a potencialidade das áreas anteriormente mencionadas associada ao poder da tecnologia, podemos avançar para passagem automáticas dos candidatos entre fases, por exemplo na fase de triagem curricular, aplicação de estratégias de Gamification que permitam avaliar os candidatos e aplicar os mesmos testes aos colaboradores High Performers avaliando os candidatos pela proximidade de match profile com os High Performers em vez de com as escalas convencionais, conseguindo assim os talentos certos para a posição certa. Podemos também remover do processo as tendências, preconceitos e enviesamentos inconscientes (unconscious bias) que levam os intervenientes nos processos de recrutamento a optar por um candidato em vez de outro, não tomando a melhor decisão, substituindo esta decisão intuitiva por decisões tomadas com base em dados, analisando a informação com base em algoritmos de Inteligência Artificial e Machine Learning livres de enviesamentos (bias). Aplicar realidade aumentada a dinâmicas de grupo.
Claro que os exemplos anteriores são somente uma ínfima parte do que a Digitalização e a Transformação Digital podem fazer pelos Recursos Humanos. E como a Transformação Digital é realmente muito mais relacionada com processos e pessoas do que tecnologia, são vocês decisores de RH, que tem na mão a chave para a transformação desta área. Pois perante os vários desafios que enfrentam diariamente, vale a pena explorar os benefícios que a transformação digital pode representar no seu dia-a-dia.
Numa altura em que muito se fala do precioso tempo que temos de gerir para alcançarmos uma maior eficiência nas tarefas que realmente importam e precisam do nosso contributo, como por exemplo ter tempo para pensar, ser criativo e transformar a área e os processos da mesma, não haverá nada melhor do que ter soluções tecnológicas ao nosso dispor que permitem alcançar melhores resultados, com melhores decisões, e num menor tempo possível.
É exatamente por esse motivo que têm surgido soluções de base tecnológica que têm como objetivo facilitar o trabalho dos profissionais de recursos humanos, tornando-o mais rápido e eficiente, tendo como ponto de partida três princípios essenciais: proporcionar uma melhor capacidade de análise sobre a gestão dos recursos humanos, fornecer informações de qualidade baseadas em dados objetivos das organizações auxiliando a tomada de decisão, e apresentar toda a informação relevante para os decisores através de uma visão unificada sobre todo o espectro de ação destes profissionais. Tudo isto é possível de ser feito, já existe e baseia-se em ferramentas de Analytics.
A elevada exigência destes profissionais, em conjunto com o imprescindível rigor do cumprimento da legislação e com as necessidades apontadas pelos conselhos de administração das organizações, representa um desafio extremamente interessante na formulação deste tipo de soluções, pois implica uma combinação de fatores e de análise de dados que dê resposta a tudo isto de forma completamente satisfatória e que conduza ao sucesso das organizações. Assim, estas ferramentas tecnológicas baseiam-se inteiramente em enormes quantidades de dados resultantes da normal atividade destas estruturas, servindo assim de base para que das suas análises resultem informações com valor significativo e capazes de sustentar os processos de tomada de decisão.
Se considerarmos a transversalidade do alcance destas soluções, podemos falar de uma preciosa ajuda em diferentes áreas de ação destes profissionais: desde a análise de headcount, turnover, payroll ou processos de recrutamento, passando pelo estudo dos níveis de engagement de colaboradores, de processos de avaliação ou até pela caracterização de competências ou necessidades de formação, por exemplo. Além disso, num momento em que o recrutamento se revela um desafio cada vez maior para quem desenvolve este tipo de trabalho devido às dificuldades ligadas à atração e retenção de talentos, poder contar com uma solução que permite aumentar a eficiência do departamento de recursos humanos que oferece uma perspetiva global detalhada sobre todos os parâmetros relevantes, é revelador do quanto esta profissão irá sofrer transformações nos próximos anos.
Não há dúvidas de que estamos a viver um período de clara mudança, sendo inegável que a transformação digital terá implicações na forma como o mercado de trabalho está construído. Não fará, por isso, qualquer sentido que nenhuma área ou profissão fique para trás neste processo de evolução. Se existem formas de tornar os departamentos de recursos humanos mais eficientes, ágeis e com uma percentagem de acerto nas suas decisões muito mais elevada, só temos de as utilizar. Caso contrário, arriscamo-nos a ficar para trás na corrida do sucesso. É o momento para mudar, transformar, agir e aproveitar o futuro!
Artigo de opinião publicado no meio InfoRH – 13 de agosto, 2019
Rui Afeiteira
Knowledge & Innovation Lead